A ascensão dos freelancers brasileiros

Nos últimos anos, o Brasil tem visto o crescimento contínuo da economia gig. Tanto é verdade que agora há mais de 25 milhões de trabalhadores autônomos atuando nesse setor.

A tendência se deve muito a uma combinação de fatores. Do fechamento das empresas causado pela pandemia de COVID-19 ao aumento do desemprego e incertezas econômicas, circunstâncias difíceis levaram muitos brasileiros a buscar alternativas à forma mais tradicional de emprego. Para compreendermos em que estágio essa tendência se encontra atualmente, realizamos uma pesquisa junto a mais de 500 freelancers brasileiros para captar o pulso da indústria e entender como planejam alcançar crescimento nos próximos 12 meses.

Como mostram nossas descobertas, apesar dos desafios de barreiras linguísticas e a falta de familiaridade com mercados internacionais, oitenta e três porcento dos freelancers brasileiros já oferecem ou planejam oferecer seus serviços a novos países. França e Alemanha são considerados mercados-alvo especialmente atrativos.

Com novos países para exportar e 46% já percebendo um grande aumento na demanda nos últimos 12 meses, é motivador observar que 90% dos freelancers brasileiros estão otimistas quanto ao futuro de uma indústria que está claramente em ascensão.

Principais conclusões

• Oitenta e três por cento dos freelancers brasileiros oferecem ou planejam oferecer seus serviços a novos países.
• Quarenta e nove por cento viram um grande aumento em demanda nos últimos 12 meses.
• Portugal, França e Alemanha são os países mais populares para os quais exportar serviços.
• Sessenta e oito por cento tiveram que aprender novas habilidades para oferecer seus serviços a outros países.
• Os maiores problemas enfrentados pelos freelancers brasileiros ao exportar seus serviços são 1) conhecimento contábil e regulamentar (46%), 2) idioma (43%), 3) conhecimento sobre o mercado internacional (43%) e 4) encontrar novos clientes (42%).
• Noventa por cento estão otimistas com seus negócios nos próximos 12 meses.

A tendência de trabalho freelance no Brasil

A pandemia da COVID-19 representou grandes desafios para milhões de trabalhadores ao redor do mundo, e os brasileiros não foram exceção.  Em certo momento, e pela primeira vez na história, mais da metade da população em idade ativa estava desempregada.

Isso criou várias oportunidades para quem perdeu o emprego, pois milhares de brasileiros buscaram novas formas de ganhar a vida usando as habilidades que já tinham. Embora a tendência de trabalho freelance já tivesse começado muitos anos antes, muitos outros milhares aproveitaram o momento para ingressar na indústria.

Tanto é verdade que 72% dos freelancers brasileiros apontam a pandemia da COVID-19 como tendo provocado o maior impacto em seus negócios, seguidos de 43% que indicam a incerteza econômica como influência e 27% que mencionam a incerteza política. Com a influência inflação atual atingindo o maior índice em 26 anos e o custo de vida aumentando a taxas alarmantes, manter e expandir um negócio freelance se tornou um problema novo e persistente.

Diante desses desafios, os freelancers brasileiros sentiram a necessidade de buscar maiores oportunidades no exterior e escapar das pressões negativas afetando seus negócios no âmbito nacional. É por isso que 83% já oferecem ou planejam oferecer seus serviços a novos países.

Enquanto muitos freelancers globais já trabalham além das fronteiras há muitos anos, os freelancers brasileiros estão na fase inicial de sua jornada.

Além disso, quando não há muitos países ou clientes potenciais que falam português, não é de surpreender que o país mais popular para o qual começaram a oferecer seus serviços seja Portugal. No entanto, é interessante observar que 35% dos freelancers começaram a exportar para a França e 25% para a Alemanha.

A explicação para a atratividade dos freelancers brasileiros em alcançar empresas alemãs está no fato de que, nos últimos cem anos, houve uma grande migração alemã para o Brasil. Isso teve um impacto positivo na cooperação entre os dois países. Além disso, desde 2008, o Brasil e a Alemanha também desfrutam uma parceria estratégica com cooperação abrangendo várias indústrias, como meio ambiente, ciência e pesquisa, negócios e comércio, trabalho e assuntos sociais. Essa cooperação levou o Brasil a ser agora o principal parceiro comercial da Alemanha na América Latina, e diz-se que mais de 1600 empresas alemãs já investiram no país. O segundo idioma no Brasil também é o Alemão, falado por quase 2% da população total. Em relação à França, o Brasil tem desfrutado uma parceria estratégica elevada desde 2006, e os dois países agora cooperam em uma ampla gama de indústrias, desde defesa até educação. Tanto é que agora existem cerca de 890 empresas francesas que atuam no Brasil, incluindo 38 de 40 das maiores empresas listadas na Bolsa de Paris. Há também mais de 100 mil brasileiros residindo na França.

Os desafios de novos mercados

Porém, exportar serviços para novos mercados tem seus desafios. Isso tem inibido os freelancers brasileiros de trabalharem em áreas mais distantes, e 43% apontam a barreira linguística como um dos maiores desafios ao trabalhar com clientes estrangeiros. De acordo com alguns, somente 1% da população brasileira fala inglês fluentemente, e apenas 5% conseguem falar em um nível competente. Isso representa um problema para os freelancers brasileiros, pois quem fala inglês pode exigir exigir salários muito maiores.

O conhecimento de práticas contábeis e regulatórias de países estrangeiros também é um fato, visto que 46% consideram problemático esse aspecto ao trabalhar com clientes estrangeiros. E, é claro, encontrar novos clientes também é difícil quando se está em um fuso horário muito diferente, como observado por 42% dos nossos entrevistados.

Para superar essas desafios, os freelancers brasileiros precisaram adotar uma mentalidade de crescimento. Isso é refletido pelo fato de que 68% tiveram que aprender novas habilidades ao oferecer seus serviços a novos clientes estrangeiros.

O futuro é brilhante

No entanto, com novos mercados em vista, há um forte senso de otimismo entre os freelancers brasileiros, que estão confiantes de que seus negócios – apesar de tudo – serão capazes de resistir às condições econômicas e incertezas políticas que enfrentam. Isso é evidenciado pelos 90% dos entrevistados que afirmam estar otimistas com o futuro de seus negócios nos próximos 12 meses.

Algumas palavras finais

Os freelancers brasileiros estão preocupados com as incertezas econômicas e políticas nacionais. Não é surpresa, portanto, que 83% já tenham começado ou planejam começar a vender seus serviços para novos países, a fim de manter e expandir seus negócios.

Embora haja desafios no horizonte, especialmente a falta de conhecimento linguístico, administrativo e do mercado internacional em geral, noventa por cento continuam altamente otimistas, proativos e esperançosos em alcançar crescimento. Como resultado, não há dúvida de que a ascensão da indústria freelance no Brasil continuará tão forte quanto já está. De fato, os freelancers brasileiros estão apenas começando.

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